Novamente, período das eleições. Época de empregos
temporários, do aquecimento esperado nas gráficas, no aumento nos ganhos de
publicitários. Dos planejadores oficiais de campanhas. Dos cabos eleitorais
pagos. Há quem diga que o único beneficio das eleições são os trabalhos gerados
para si. Vejo também o fenômeno dos homens faixa, as mulheres porta-bandeira e
panfleteiros competindo espaço com os pedintes, os malabares e os passantes nos
sinaleiros.
Almejando atenção o candidato patrão, sorridente na foto,
com v de vitória, escancarando seu número com o imperativo vote! O mar de
faixas e bandeiras, às vezes parecendo uma grande festa colorida, as cores
predominantes, azul e vermelho. As senhoras gordas contratadas para tremular a
bandeira o dia todo, queimadas de sol e aflitas por água. Banguelas, moradoras
de bairros distantes e sem entender o que realmente pode significar um
resultado eleitoral. Longe dos ternos caros estão as camisetas furadas dos
seguradores de faixa em pontos de destaque da cidade, pensando na vida como um
comercial. Ou na novela se vendo como um potencial personagem prosperando no
trabalho e comprando carros. Tenta se esforçar para esquecer da realidade embrutecida,
da política que não há política.
Não sabem as propostas dos candidatos por quem transpiram o
dia todo, das diferenças ideológicas das bandeiras e da ideologia que permeia
seus pensamentos. A ensurdecedora propagação de singles emburrecedores, que
calam qualquer raciocínio, em seus ritmos de sertanejo, forró, funk ou rock
comercial. Incutindo-nos a besta ideia de que o número mais ouvido será o
merecedor de nosso voto.
Todos ganham com as eleições? - Com certeza não, e uns saem
ganhando mais ainda. E para maioria nada muda e se muda é para pior. A política
tomas rumos despolitizantes às vezes, já que nadar contra as correntes
empresariais dos níveis locais, nacionais e principalmente internacionais é
coisa do passado.
Parece que é coisa antiga confrontar-se com interesses dos
grandes, pelo contrario, hoje até o respeitamos, pois sabemos que as armas para
lutar estão dispersas em áreas televisivas. Pois, no Brasil, temos pouco do
debate de ideias da militância pensante, disposta a ideias. Tivemos muitos
antes, porém o peso da idade incapacita para ação, com todo respeito. E nossa
geração esta embriagada de coca-cola. Ocupada com o facebook. Mal temos
política. Apenas a politica eleitoral, de véspera, da pressa, do discurso
ditado pelo marqueteiro.
Temos uma ideia vaga de projetos. Inclusive as propostas de
candidatos parecem estar eternamente em vias da construção de seu projeto. O
que manda é a política de campanha, de quem convence o povão a votar neste ou
naquele partido. Às vezes dá impressão que nem há oposição porque são tão
amplas as coligações de um ou outro candidato que a política se torna única.
É claro que exagero um pouco, é certo que a política é feita
de projetos. Mas que não seja apenas projeto, e sim ações. Que seja real. Que
aqueles que trabalham nas campanhas possam saber de verdade o que estão fazendo
e escolher fazê-lo ou não. Que as eleições sejam capazes de escolher os
defensores dos direitos do povo, não das corporações sanguessugas, não dos
empresários ávidos por lucros maiores, apoiadores de candidatos com a boca
cheia de dentes, enquanto, quem trabalha para sua campanha não tem nenhum.
A tal "política" vigente no país (e em tantos outros) é a dos financiadores de campanhas. São estes quem determina a "política pública", ou seja, ela também foi privatizada, pelos seus bastidores. Não há políticos (fora alguma rara exceção, devidamente neutralizada pela esmagadora maioria - apoiada pela mídia), há fantoches que simulam política enquanto fazem do Estado um criminoso, um robinhude ao contrário, que rouba dos pobres pra dar aos podres de ricos.
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