sexta-feira, 28 de setembro de 2012

MAIS UM VERSO SEM APLAUSO - Rajada Mc’s




















O ator tomba sem vida, enforcado em sua própria gravata. No centro do palco sentada em uma poltrona, toda poderosa, a atriz esboça um sorriso. As luzes se apagam, a platéia se levanta e irrompe em aplausos. As luzes se acendem e a atriz diz: “tem algo estranho acontecendo nesse país... estão aplaudindo o crime”. Os aplausos ganham mais força.
Esse é o final da peça “Alzira Power”, de Antônio Bivar e direção de Gustavo Paso, encenada no Iguaçu Boulevard em 2008.

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“Essa musica aqui é direcionada diretamente pra sociedade, que aplaude nosso sangue escorrendo, nosso povo sofrendo, por isso esses versos aqui são sem aplausos”.

Essa foi a fala do grupo Rajada Mc's de Campo Mourão no evento chamado “A Voz do Interior”, que aconteceu em Cianorte, interior paranaense, em dezembro de 2011.  Foi o discurso de abertura da música “Mais um Verso sem Aplauso” que será lançada em seu novo álbum intitulado NovaMente.

A música do RJD é muito interessante e traz uma discussão importante sobre aquilo que se deve ou não ser aplaudido na sociedade atual. Vivemos nos dias de hoje sobre uma espécie de “ditadura do aplauso”. É a banalização do aplauso em programas de auditório, shows de celebridades e comícios, levando em conta que boa parte dos aplaudidos merecem na verdade uma enorme vaia.

“É mais um verso sem aplauso / Se no baque da quadrada eu vejo o sangue escorrendo no asfalto / É mais um verso sem aplauso / Crack, cachimbo, caixão, nóia que vira finado”.

A música nos trás fragmentos de tudo o que é mais doloroso pra um morador de favela e bairros periféricos: O abandono do governo, a fuga nas drogas, os assassinatos, a fome, o desemprego, a corrupção, a criminalidade e a falta de perspectiva de uma juventude jogada ao léu. Uma cena triste que não merece aplausos.

O rap é um dos poucos gêneros musicais da atualidade que ainda foca suas composições na denuncia de um sistema que está a favor de uma minoria. Nesse contexto pós-ditadura militar, não temendo as represálias, o Movimento Hip-Hop teve a coragem de dizer que o rei continua nu, e que nossa democracia é ditadora.

A peça de Bivar, cujo título original é “O Cão Siamês” foi escrita em 1969, enquando o Brasil amargava uma ditadura militar e uma parte da sociedade também aplaudia os crimes cometidos pelo regime.

A maioria dos militantes do Hip-Hop se posicionam na contramão da cultura dominante e ainda sofrem grande pressão do mercado e da indústria cultural para abandonar o discurso áspero e produzir um rap mais colorido, ameno e que se limite ao entretenimento.

Nessa canção o Rajada traz também a discussão sobre o preconceito com o rap e a favela: 
“Nóis  é  rap,  é  favela,  de  marginal somos chamados / Mas na verdade somos marginalizados”.

Podemos observar que acontece por parte da elite, uma tentativa de rebaixar a favela e as suas manifestações culturais, como uma forma de desqualificar o discurso.  Cria-se uma relação de poder entre quem tem o aval para falar e expor sua visão, e aqueles que só podem escutar.

O ministério RJD adverte: Mais um verso sem aplausos, e nenhum minuto de silêncio.


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