Hoje, 04 de julho de 2012, comemoram-se exatamente 236 anos da independência norte-americana. Soa-me irônico, sendo paulista, estar em Foz do Iguaçu nesta data, neste momento.
Primeiro porque estou bem do lado do país que nas últimas semanas foi vítima do golpe de estado talvez mais cínico da história latino-americana, sem “violência” e dentro estritamente do mais rigoroso rito democrático: Fernando Lugo foi extirpado da presidência como uma especialista e meticulosa equipe médica retiraria um feto de um ventre cuja mãe tivesse pais que, não desejando a futura criança, pagasse sem pestanejar um caríssimo e ilegal aborto sob as mais rígidas normas médicas de um hospital oficial.
Segundo, soa-me também irônico porque hoje, nesta noite frenética, decide-se a final do campeonato que revelará o melhor time da América, entre o brasileiro Corinthians e o argentino Boca Juniors.
Estar aqui hoje está parecendo estar no bairro do Bexiga, em São Paulo: o Paraná todo parece também ter se tornado paulista - ou está sendo apenas brasileiro, para deixar um pouco a rabugice de lado.
E o que a primeira coisa tem que ver com a segunda? Em uma competição esportiva cujo nome é LIBERTADORES DA AMÉRICA, nada me parece mais surreal do que ver e ouvir milhares de brasileiros paranaenses da fronteira (os outros milhões de brasileiros envolvidos na torcida não estou vendo nem ouvindo, porque estou sem TV) mobilizados até os dentes na simpatia pelo Timão, engajados absurdamente numa causa que deixa de ser paulista para ganhar uma dimensão nacional. Não que torcer não seja saudável; eu mesmo, aqui, no ano passado, torci freneticamente para o Santos, que então abateu e consagrou-se campeão das Américas em cima do uruguaio Peñarol. Não. Não é este o caso.
A ironia é a inacreditável apatia brasileira, em especial a dos mesmos mobilizados torcedores pró e contra o Corinthians na noite de hoje (e a dos do Santos, no ano passado), diante do crime contra a LIBERDADE NA AMÉRICA que está sendo cometido no irmão Paraguai. Mobilizações de movimentos sociais chegaram a arranhar alguns minutos na mídia quando pacificamente bloquearam a Ponte da Amizade, mas os resultados foram irrelevantes. Nada mais.
Por agora, recuperando sinistros traços de uma história recente, foi o Paraguai a bola da vez, mas, a imaginar os interesses estadunidenses na questão, a situação é preocupante e mereceria este mesmo frenesi futebolístico da noite de hoje (ou aquele santista do ano anterior), só que em prol da LIBERDADE POLÍTICA NA AMÉRICA. Neste 4 de julho irônico, quem tem mesmo a comemorar são os EUA: com um de seus paus mandados na presidência paraguaia, pode vir a desestabilizar mais ainda não só o já capenga MERCOSUL, nem a embrionária UNASUL, mas todo o sistema articulatório que começava a ganhar forma na América Latina. Viva a LIBERTADORES sem libertadores! Viva a emérita América! LIBERDADE!!
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