terça-feira, 29 de maio de 2012

NOVE MESES – Felipe Fraga

Foram nove meses que passei na maior
tranqüilidade que um ser pode passar.
Nove meses no quentinho, em meu abrigo,
sentindo toques suaves, toques de amor
e de carinho, ouvindo seu cantarolar para
eu dormir. Ela não sabia sequer minha
aparência e nem sabia que estava acordado.

Passei nove meses cantarolando ao seu lado.
Passou nove meses me carregando, me
aconchegando, estava na minha perfeição,
tinha tudo que queria. Nove meses pensando
por que merecia tanto, porque só eu estava ali,
ninguém além dela podia me notar.

Nove meses me levou para eu acordar, essa foi a primeira
decisão de minha vida, a minha decisão de se libertar.
Libertei – me, vim ao mundo, tudo escuro, era frio, vozes...
algo tocou em mim, abri os olhos, vi as coisas ao meu redor,
barulhos, luzes. Respirei bem fundo, então gritei à sociedade,
logo me esquentaram , me alimentaram, olhei nos olhos de quem
me carrega a nove meses.

Logo me levaram para casa, a primeira impressão do mundo, o primeiro contato, tudo era tão diferente, não era mais só eu. Passei 9 meses me descobrindo, nove meses aprendendo a falar, caminhar... Comecei a ver o mundo de pés no chão, sem ninguém para me carregar, primeiro passo agora nesse mundo.

Vi pessoas na rua, matando, roubando, já não era aquele mundo que via ao redor dos braços de minha mãe, vi opressão, rebelião, todos pela libertação.
Vi carros de luxo, vi pés descalsos, vi pratos fartos e pratos vazios,
vi túrgidos de tanto comer, vi magrelos de tanto pedir. Mudos pois já perderam as forças de tanto gritar, surdos pois já cansaram de tantas promessas, cegos pois não agüentam mais ver tanta barbárie, desesperados pela vida, desesperados por apenas sua libertação.

Estava confuso, tinha muitas perguntas, Então gritei: Cadê seus direitos? Logo escutei: consumidos pelo poder. Que poder? Aqueles que nos suga, aqueles que nem se quer olha pra gente.

Cadê sua liberdade de ir e vir? - ir e vir? Ir para meu emprego,
ser tratado como escravo e vir para casa cansado sem ter o que
comer. Cadê o país democrático? - democrático? Democracia de livre comércio, pois somos aqui tratados como mercadoria. Cadê, cadê, passei 9 horas, 9 meses, 90 anos e ainda não descobri aonde está.

Apenas sei que com toda essa opressão nesse mundo é difícil me libertar.

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